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A complicação é organizar uma eleição limpa no Vasco. E você, leitor, pode estar confuso, pensando, o que o título deste artigo tem a ver com eleição? Eu explico: não me propus escrever um blog para ficar falando só dos assuntos que me incomodam como torcedor, mas também dos que me incomodam como sócio. Assim sendo, mais do que vitórias ou derrotas (muito importantes) me proponho discutir o Estatuto e a administração do clube que escolhi me associar. Associar-se ao Vasco representa participar (não só financeiramente) da vida da instituição mas também opinar sobre o seu funcionamento.
Como torcedor, sempre anseio por vitórias e, neste momento difícil não penso de forma diferente. Quero que o clube se livre do fantasma que o ameaça. Porém, como sócio, não posso fechar os olhos para o futuro incerto que visualizo.
As vitórias são muito importantes, mas nada significam se o clube não sobreviver e percebo que além do esforço de permanecer na primeira divisão ou a obtenção de mais um título, nenhuma notícia tem circulado sobre o planejamento para os dois próximos anos da atual administração. Logo passará o efeito da obtenção (ou não) do título da Copa do Brasil, assim como o efeito imediato de permanecermos ou não na primeira divisão. Porém, qualquer que seja o futuro imediato, que ações a diretoria do Vasco prepara para enfrentar os dois próximos anos?
Torcer pelo Vasco, é nossa tarefa do dia a dia, competição por competição, rodada por rodada, jogo por jogo, regata por regata, mas a sobrevivência do clube depende mais da competência daqueles que o dirigem, com visão de longo alcance, do que daqueles que só se preocupam com o dia a dia e só enxergam a ponta do seu nariz. Como o mandato de uma diretoria é de três anos, o projeto deve ter, no mínimo, este alcance, além de sugerir a continuidade para próximas diretorias. Isso me incomoda, pois não vejo isto no Vasco, há muito tempo!
Uma coisa que me incomoda demais é a estrutura administrativa definida pelo ultrapassado Estatuto do clube. Basta ler o “CAPÍTULO VIII - DA ASSEMBLÉIA GERAL” e tentar entender os seus artigos (do 58 ao 74) para entender o que quero dizer. Resumindo, é muito difícil retirar (legalmente) um grupo que tenha ganhado o poder no Vasco da Gama. E isso acontece porque a estrutura administrativa sustentada pelo arcaico Estatuto dificulta a realização de eleições limpas e claras. Por isso sempre acontecem problemas de credibilidade nas eleições vascaínas. É claro, para mim, que o presidente anterior só perdeu nova reeleição ou não indicou um sucessor vitorioso, porque não quis (ou não conseguiu) se articular com outras facções. Na verdade ele perdeu para ele mesmo, após uma administração fraca e sem apoio.
Porém, não vejo nesta atual administração, mesmo que avaliada negativamente do ponto de vista administrativo ou seja fruto de ações nebulosas e mal esclarecidas, intenção de entregar ou concorrer lealmente com qualquer chapa opositora.
O poder do presidente vascaíno, de uma forma resumida, é amparado , em princípio, por 120 conselheiros eleitos pelos sócios com ele em sua chapa. Considerando que o Conselho Deliberativo possui 300 membros, sendo 120 eleitos na chapa do mais votado, 30 eleitos pela chapa segundo colocada e mais 150 conselheiros natos (Beneméritos e Grandes Beneméritos), o presidente será confirmado no cargo se possuir mais da metade dos votos dos conselheiros. Ora, ele já possui 120 escolhidos com ele pelos sócios, basta mais 31 conselheiros natos (de um total de 150) para ser empossado. Se ele tiver bom trânsito e penetração entre os conselheiros natos, não é difícil ser escolhido, bem como permanecer no cargo em caso de reeleição.
Considerando que os conselheiros natos são beneméritos ou grandes beneméritos e, alguns com idade avançada, bem como vaidosos por esta honraria, normalmente são facilmente manipulados. Não fosse somente por isso, normalmente também devem favores ao presidente ou a sua facção, senão vejamos: “Estatuto - Art 12 § 1º - A proposta para a Grande Benemerência deverá ser apresentada pelo Presidente do Clube, com a respectiva justificação, ao Conselho de Beneméritos, para esse fim especialmente reunido. Da outorga do título por este Conselho será dado conhecimento ao Conselho Deliberativo.

§ 2º - A proposta para concessão do título de Benemérito, Emérito ou Sócio Honorário deverá ser encaminhada pelo Presidente do Clube, acompanhada da respectiva justificação, ao Conselho de Beneméritos, que designará uma comissão de cinco membros para dar parecer sobre a mesma, cabendo ao Conselho Deliberativo a decisão final, por votação secreta.”

Alguém que foi indicado pelo presidente ou sua facção, iria votar contra ele? Entende agora o peso do atual Estatuto e porque existe tanta dificuldade para modificá-lo, modernizando-o e democratizando-o? O modelo atual ajuda a manter uma mesma facção no poder durante o maior tempo possível e, quanto tempo mais um grupo (ou pessoa) ficar no comando, maior a possibilidade de indicar conselheiros natos e se perpetuar no poder. Outra coisa, quanto mais seguro ficar no comando maior a possibilidade de que um pedido seu se transforme numa ordem...

Isso é só uma minúscula porção do poder que o presidente possui. Futuramente falaremos de outros itens estatutários, inclusive penalidades a que os sócios estão sujeitos, sem direito a defesa.
Por enquanto vou ficar por aqui. Porém, espero que a mensagem seja clara: ou modernizamos o clube ou ele se transformará no quintal de alguém, com ônus para o torcedor que paga os ingressos e os sócios que pagam as taxas e mensalidades.

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