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Ex inimigos, ex aliados e... Ex inimigos, ex aliados e...

A DIFÍCIL VIDA FÁCIL (DE PRESIDENTE)

O presidente do Vasco precisa se legitimar no cargo. Desde sua inesperada ascensão à presidência da diretoria administrativa em 19 de janeiro, fruto de uma reunião do Conselho Deliberativo (composto de eleitos e natos)  com todos os ingredientes que caracterizam uma grande traição, ele não conseguiu obter aprovação popular de boa parte dos verdadeiros vascaínos. “Gato escaldado tem medo de água fria” é um ditado que se aplica com muita propriedade á torcida do Vasco.

Não bastasse a inusitada decisão de beber na taça do inimigo e se associar a declarados opositores políticos à época, agora o senhor Campello prova do mesmo veneno, administrado por aqueles que vestem e desvestem, cinicamente,  fantasias de bons moços ou de lobos maus. Tudo isso acontece, num momento em que parte do país começa a despertar para a necessidade de excluir da vida pública elementos vinculados a velhos hábitos nocivos á parcela consciente da sociedade. Os piratas de outrora se desentenderam agora, e trocam acusações e ofensas.

Encerrada a última batalha, Campello ficou com o comando do barco, mas sem esquecer que muitos desafetos arriaram os escaleres e navegam ao redor da nau capitânia na espera de abordá-la novamente. Administrar um clube cercado de mequetrefes não é uma tarefa tranquila. Nada aponta para uma calmaria no oceano de vaidades que o Vasco navega. Serão sucessivas reuniões convocadas pelos inimigos com intenção de derrubar o, até então, coligado. Com certeza Campello não dorme com os dois olhos fechado, há muito tempo...

Meu avô  (também sou avô...) no início da segunda metade do século passado, me contava histórias de heroísmo,  amizade e solidariedade, passando pela carta histórica de apoio aos atletas humildes (numa época em que o futebol era considerado esporte de elite), construção de São Januário (sem auxílio do governo), Segunda Guerra Mundial (quando o Vasco doou 2 aviões para a Força Aérea Brasileira), Copa do Mundo de 1950 (no Brasil) que resultou numa brutal injustiça com o goleiro Barbosa. A célere escalada do Vasco no segmento desportivo brasileiro contribuiu para transformar o Brasil num celeiro de craques, propiciando acesso a uma vida melhor para pessoas que tinham na habilidade esportiva a oportunidade de seu sustento.

O Vasco (o verdadeiro clube popular da zona norte do Rio) construiu, com pertinência, persistência e coerência sua história no cenário esportivo mundial. Tornou-se uma potência esportiva e, especificamente, uma referência no futebol. O nome do Vasco era sempre lembrado quando se promoviam torneios internacionais. Os atletas do Vasco faziam-se presente, constantemente, nas listas de convocação para seleções nacionais.

O “Expresso da Vitória” conquistou 11 títulos (3 invictos) entre 1942 e 1952 (iniciado pelo inesquecível e saudoso presidente Cyro Aranha), sendo o primeiro time a usar o sistema 4-2-4, adotado posteriormente por todos os times. Fomos o primeiro clube brasileiro a vencer um campeonato internacional fora do Brasil, o “Torneio dos Campeões Sul Americanos de 1948”.

E agora, o que somos? Onde estamos?

Devemos a nossos antepassados, que escreveram a mais bela história de um clube esportivo do mundo, satisfação e respeito. Jogar fora essa linda memória por conta de interesses espúrios de maus vascaínos, não faz de nós, torcedores de bem, melhores do que esses velhacos. Precisamos reagir!

Exijamos da diretoria do clube, em especial de seu presidente, atitudes semelhantes àquelas que, num passado distante, tantos dirigentes praticaram em benefício do Vasco e que tanto nos orgulham. Infelizmente, desde algumas décadas atrás, as administrações  esqueceram de colocar o clube acima de seus interesses pessoais.

Deixemos para os tiranos seu legado maldito. Nossa herança vem de 1898. Façamos os 120 anos do Vasco valer à pena!

No ano em que completamos um século e mais 20 anos de existência, esperamos que Campello se redima do golpe, promovendo uma administração transparente. Queremos prestações de contas constantes, com contabilidade acessível, atos lúcidos, decisões coerentes e atitudes democráticas.

A primeira atitude dessa remissão, seria a retirada da ação de retomada do HD e apoio à perícia e apuração do seu conteúdo, doa a quem doer. À torcida do Vasco interessa a verdade e àqueles que nada têm a temer, também.

A segunda atitude seria a aceitação da conclusão da investigação e a decisão da Justiça, com as devidas consequências.

Em terceiro lugar, se ainda estiver à frente da diretoria executiva (ou enquanto à frente estiver), promover auditoria geral abrangendo todas as vice-presidências e seus departamentos, com encaminhamento de soluções das irregularidades comprovadas.

Concomitantemente, apoiar (e/ou promover) uma revisão do Estatuto, com ênfase primordial nos anseios dos sócios e torcedores, principalmente no que diz respeito à eleição direta para a diretoria administrativa.

Talvez com essas atitudes o Vasco  atraia investidores e, principalmente, parceiros, ao invés de interesseiros que ambicionam aprisionar o clube para usufruir financeiramente de sua notoriedade, caso típico de empresários de jogadores que emprestam dinheiro ao clube em troca da inserção de seus pupilos.

A DIFÍCIL VIDA FACIL (DE TREINADOR)

De onde vêm os treinadores? Alguns são ex-jogadores, outros são pessoas que transitam habitualmente no meio desportivo (vinculados profissionalmente- ou não - aos clubes, ou jornalistas, dirigentes, profissionais formados em atividades esportivas).

Como será a vida de um treinador de futebol? Ele tem sob seu comando uma série de jogadores que encontrou no clube quando chegou para treinar a equipe. Todos possuem empresários que orientam suas carreiras. Ele, por sua vez, também possui um empresário que administra sua trajetória profissional. Não raramente ele se depara com jogadores que possuem o mesmo administrador. Pense que, como responsável pela escalação do time ele resolve barrar um jogador que possui o mesmo empresário que coordena a sua carreira. Imagine se o empresário entender que o treinador está desvalorizando seu pupilo ao não escalá-lo em uma partida, por deficiência técnica, por exemplo. Será difícil imaginar que o treinador sofra pressão?

Neste mundo diferente do futebol, só quem continua estagnado no tempo é o verdadeiro torcedor (quando falo de torcedor, não falo de torcida (des)organizada mas do, digamos assim, “torcedor autônomo”). Este, desde o início do século passado, continua colocando sua paixão acima de tudo e sempre a favor do clube, sem preferências “partidárias”. Ele sonha em ter um time vencedor, independentemente de quem seja o presidente do clube. Se puder unir um time de ponta com uma diretoria competente, seria o ideal. Infelizmente o resto do segmento futebolístico evoluiu no sentido inverso ao da paixão do torcedor. Isso, porque se dá valor extremamente relevante ao dinheiro. Desde que o Brasil começou a conquistar, regularmente, títulos internacionais através da qualidade de seus jogadores, os países desenvolvidos (e bem mais ricos e organizados) tem, sistematicamente, procurado diminuir nossa influência, transformando-nos em fornecedores de mão de obra barata. Assim, garimpam em terras tupiniquins, desde o início de seus primeiros chutes, garotos promissores. A cada Neymar que vai para a Europa, centenas de “promessas baratas” são aliciadas com expectativa de um futuro próspero.

É impossível impedir que um jovem jogador se aconselhe com um especialista sobre seu futuro, pois a profissão de jogador de futebol, ao contrário da maioria das profissões, exige que se valha mais quanto mais jovem se é. Enquanto nós, reles mortais, temos nosso valor ampliado quanto mais experiência temos, com o jogador de futebol acontece o oposto. Desta forma, um jovem atleta pouco conhece sobre os meandros burocráticos de um contrato e muito menos sobre o gerenciamento dos altos valores envolvidos. Não é de se estranhar que o mundo do futebol se assemelhe a um iceberg: a parte que vemos sobre a água é imensamente menor do que a parte submersa.

Neste universo especial do futebol, técnica, ética, paixão, profissionalismo, fisiologismo, competição, regras, publicidade, imagem, exposição, dinheiro, etc. são ingredientes que, nem sempre, resultam numa sobremesa saborosa. Além desses fatores, um outro ingrediente faz parte desse prato complicado que o treinador tem que digerir, diariamente: a política do clube. Não raro esse fator é o que mais alija um treinador de sua função. A impossibilidade de todos serem campeões, somado a um ambiente político conturbado com a obrigatoriedade de não poder perder jogo, derruba uma enxurrada de treinadores. Não é de se estranhar que os leões estejam em extinção: só os treinadores brasileiros são responsáveis pela morte de uma quantidade enorme, pois a cada rodada têm que matar um... para sobreviver. Zé Ricardo foi comido pelo seu, que responde pelo nome “bagunça”.

Os leões que sobrevivem nesta selva futebolística, aguardam com ansiedade pelo próximo treinador vascaíno. O “HD”, o “Balanço”, o “Rede Globo”, o “Casaca”, o “Identidade”, o “Siberiano” e seus filhotes, além do “Bagunça” e seus primos, são alguns dos nomes conhecidos e aguardam pela chegada de carne nova.

Enquanto alguns clubes conseguem, com times de qualidade e organização administrativa do século XXI, sobreviver competitivamente, o Vasco carece de estrutura decente e se transforma, cada vez mais, num atrativo para os predadores. Aliás, o zoológico deveria ser transferido para São Januário, com uma segunda sede na Lagoa, com uma jaula mista para Conselheiros e Beneméritos.

Sobre Conselheiros e Beneméritos, falarei em próximo artigo.

Abraços.

S.V.!

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