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O Vasco está a pouco mais de trezentos e sessenta minutos de jogo de escrever um dos mais marcantes feitos de um clube e sua saga contra um rebaixamento, ou de confirmar mais uma de suas tristes marcas que poderão arranhar, mais uma vez, seus mais de cento e dezessete anos de história. Independentemente do que venha a acontecer, alguns aprendizados deverão ser lembrados por todos os envolvidos, seja na alegria no caso de fuga, ou na dor no caso do descenso.

Lógico que outros aprendizados deveriam ter ficado quando nos descensos de 2008 e 2013, motivo pelo qual não creio que seja através desse tortuoso caminho que iremos aprender algo que ainda nos recusamos. Afinal, não são todos os clubes que aprendem, mesmo na dor, e o Vasco é um desses típicos exemplos que merece, inclusive, estudo de caso. Ao contrário de nosso adversário Corinthians, que em cinco anos saiu da segunda divisão para ser campeão do mundo, o Vasco saiu da segunda divisão para lá voltar nessa mesma quantidade de tempo, e em dois anos, para ter ameaçada sua permanência na elite, mais uma vez, depois de uma passagem pela segunda divisão de forma indigna ao que o clube deveria demonstrar.

Afora as questões de cunho político no qual não vou dar muita atenção nesse momento, ainda que perceba-se o quanto a paz interna numa instituição pode fazer bem à própria. O próprio Corinthians se mostra como tal referência, ao sair de um período conturbado em sua política e, com isso, ganhar outros patamares. Não é coincidência de que, após esse período turbulento, tenha chegado ao topo do futebol do mundo, e ignorar esse fator adicional para seu sucesso é irreprochável.

Outros fatores mais são capazes de ajudar, de forma mais nítida e pulsante, a compreender o porquê de um campeonato inteiro (e ainda) nas condições que o Vasco passou (e passa). Uma delas é a falta de planejamento: pensar que por vencer um certame carioca fraquíssimo o time seria suficiente para disputar uma competição de maior magnitude foi um erro digno de quem não conhece futebol. Muitos alegarão o fator austeridade, mas então o porquê de um elenco inchado, com quase cinquenta jogadores, a grande parte inexpressivos, tirando inclusive a voz e a vez dos jovens formados pela própria base? Em tempo: sempre que difundiu-se a palavra "austeridade" no balneário vascaíno, quase sempre foi sinônimo de "vai dar ruim", assim dito no linguajar popular.

Formar um plantel qualificado com pouco dinheiro em caixa não é das missões mais fáceis, mas é possível quando se há boa vontade para prospecção de valores dentro do mercado brasileiro e renúncia aos interesses de empresários e aos dos próprios que são ou deveriam ser responsáveis pela condução do "carro-chefe" do clube. Com certeza, o Vasco arrecada mais do que Chapecoense, Ponte Preta, Sport Recife e Atlético-PR. Possuem um montante menor de dívidas, verdade, mas ainda assim, será que possuem maior poder aquisitivo do que o Vasco, numa simples conta de matemática entre o ativo real e o passivo equacionado? Ou será que o caminho tomado por tais instituições foram outros, como a estruturação de um elenco não tão envelhecido, a chance aos jovens talentos e o planejamento de um time entrosado desde o início da competição?

No momento em que o Vasco resolveu agir sobre suas deficiências já estava com, praticamente, a data da (nova) tragédia pré-agendada. Dali em diante, as velhas e já conhecidas receitas do amadorismo de sempre em plena era do profissionalismo e do planejamento: contratações às pressas, em especial. Por sorte, surgiu Nenê no mercado da bola: esse resolve. Por falta da mesma, apareceram Herrera e Leandrão: esses não resolvem. Aliás, nunca resolveram para equipes com a envergadura de Vasco. Seriam agora, soluções? Por qual motivo pensar assim, que não seja um motivo de ordem técnica? Financeira talvez...mas, e a austeridade? Vai parar onde se ao invés do investimento certo e pontual a "brincadeira" volta a ser a grande e duvidosa quantidade, onerando a mesma folha de pagamento sem a qualidade necessária?

E finalmente: clube esportivo do tamanho do Vasco e com a torcida que possui não é ambiente familiar ou local para experimentos. A pífia gestão Roberto já cometeu esse erro quando em sua passagem, entre 2008 e 2014, e pela mesma atual gestão que coloca o filho do Presidente como "assessor direto" foi criticada. Percebe-se que, no seu afastamento dos holofotes e, também, do futebol do clube, o elenco junto à comissão técnica fizeram o clube reagir nesse certame. Coincidência? Talvez, mas na dúvida por hora (e porque não, depois também?) é melhor continuar assim.

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Independentemente dos rumos que o clube irá tomar ao final desse ano de 2015 (desejamos que seja o menos doloroso), há de se destacar o excepcional trabalho da dupla Jorginho e Zinho devem ser mantidas para 2016. Não somente pelas pessoas humanas que são e pelo trabalho técnico que vêm realizando, como também sob o ponto de vista motivacional. Tenho quase certeza de que a expressão "Eu resolvi acreditar" se tornou ainda mais forte com suas perseverança e confiança, que com tranquilidade passaram para o grupo de jogadores, que só não estão entregues por conta desse trabalho motivacional no cotidiano.

Jorginho, por sinal, engendrou com sucesso a nova "metamorfose" enxergada por mim e tantos outros, que era necessária para que o "fato novo" insurgisse nesse time do Vasco, em especial após a derrota para o Fluminense, num prenúncio de que novas medidas pontuais deveriam ser adotadas para a volta ao caminho das vitórias.

É evidente que o meio-campo carecia de um cabeça de área de origem, ao menos. Júlio dos Santos, mal como armador, pior ainda nessa função, estava muito longe de ser o mais indicado e de dar certo nessa improvisação. Aceitemos ou não, Diguinho é o nome do momento, ao lado (possivelmente) de Bruno Gallo para o próximo confronto. No ataque, Rafael Silva tem de jogar, seja na posição de atacante de lado de campo (minha preferência), seja como centroavante infiltrado. Já a preferência por Riascos (acertada, ao meu ver) é por eliminação: ninguém que seja centroavante de origem nesse atual elenco - por mais limitado que se considere - é capaz de ter desempenho pior do que Herrera e Leandrão; ou de ser tão displicente com sua própria carreira como Thalles.

Desejo somente que, ao final, o alívio por uma, agora possível, fuga não se transforme em arrogância que leve ao clube ao não-aprendizado, tendo o próprio a possibilidade de correr novos riscos de trilhar os mesmos sofríveis caminhos do presente em um futuro próximo.


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