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Os clubes de futebol têm vivido nos últimos anos uma verdadeira histeria financeira desde o advento e a homologação da lei da Sociedade Anônima do Futebol (a famosa SAF), que permitiu a criação do clube-empresa, com promessas auspiciosas de rios de dinheiro, grandes times e troféus, mas o que pouca gente sabe é que esse mecanismo tem, como tudo na vida, prós e contras, direitos e deveres, porém, algumas coisas podem e devem ser basilares para quem vai administrar um clube-empresa: saúde financeira do comprador, contrato claro e transparência na prestação das contas (compliance), organização das dívidas, pagamento pontual e, claro, a idoneidade do comprador e é sobre isso que se vai falar aqui, pois a grave situação que acometeu a SAF vascaína pode acontecer em outros clubes, não só no Brasil como no mundo de forma geral, mas o foco será o Clube de Regatas Vasco da Gama. Na última eleição de 2020, o Vasco vivia uma saúde financeira muito frágil fruto de anos de más administrações, investimentos errados, execuções de dívidas trabalhistas e cíveis não honradas pela agremiação esportiva, e tudo isso levou o Vasco, na figura do presidente à época, Jorge Salgado, a entrar no mecanismo (recém-aprovado) que seria a panaceia para todos os problemas dos últimos anos. Importante dizer que o próprio Salgado, antes do fato, na campanha e depois dela, jurava não precisar de tal ferramenta, pois isso seria coisa para clube ‘pequeno’ e ‘falido’, tendo como arauto e garoto-propaganda o eloquente Carlos Roberto Osório (figura-chave na campanha daquele), o qual apregoou exaustivamente o porquê da venda, os benefícios da venda do clube e as maravilhas da venda, logo a onda pró-SAF tomou conta de boa parte dos vascaínos, a começar pelos influenciadores digitais (de grandes canais do Youtube, tiktok, kwai, X, etc), passando por jornalistas tradicionais, torcidas organizadas (sim, até elas embarcaram nessa onda), chegando até a ponta da lança: os torcedores comuns. Só um pequeno adendo, antes que alguém fale, é óbvio que a criação de um novo CNPJ para o Vasco e a centralização das dívidas ajudou o clube a pagar as contas, isso é fato, mas a pergunta que fica é: por que a 777? Por que a empresa KPMG não mostrou os perigos do negócio, se já havia, em sites estrangeiros, coisas suspeitas sobre o Josh Wander e sua trupe? Hoje, o torcedor comum soube que o modus operandi da 777 era tomar dinheiro de empréstimo para fazer capital de giro com dinheiro que não era dela, e isso só veio à tona graças à compra malfadada do clube inglês Everton. Confesso que fiquei bastante animado a princípio com a venda do Vasco para a 777, mas mamãe diz sempre que ‘laranja na beira da estrada ou está estragada ou está bichada’, o processo da venda foi algo rápido, com pouca discussão e, de certa forma, com alguma unanimidade entre os segmentos colocados acima, sendo a 777 a empresa escolhida e vencedora. Houve, é importante dizer, vascaínos resistentes à ideia da venda (Vascaíno do Cerrado, Pai Carlos, Chicão entre outros) por já terem tido acesso ao passado nebuloso do fundador e sócio da empresa, o Josh Wander. Falando nele, o próprio, em entrevista, fez uma promessa ao torcedor, dizendo que colocaria o Vasco em pé de igualdade financeira e técnica com seu maior rival, o Flamengo – algo que não ocorreu e irritou bastante os torcedores. Depois, claro, houve influenciadores, os mesmos, diga-se de passagem, que, como se diz na gíria, ‘passaram o pano’ para essa promessa não cumprida, dizendo ser um ‘erro de tradução’ ou uma interpretação malfeita... aí, sim, hein, pai! O tempo passou e os processos internos da empresa, organograma, ausência do dono da empresa nos momentos mais críticos e os resultados esportivos pífios mostraram a ‘expertise’ da 777, aquém do que fora prometido, os questionamentos começaram a surgir de parte a parte, a equipe principal de futebol em 2023 não pontuava e o elenco ficou estacionado na tabela no ano em compasso de espera pela janela de transferência do segundo semestre, e nisso entra outro componente: a eleição de 2023 para presidente do clube associativo, que trazia o candidato vencido na conturbada eleição de 2020 – Leven Siano - e o outro candidato oponente, o qual fora jogador e campeão pelo clube – O Pedrinho. Muitos vascaínos questionaram o porquê da eleição de 2023 do Vasco ser on-line, mas, como se sabe, no Vasco quase toda eleição é judicializada e, logo, uma das formas de isso não acontecer seria torná-la virtual – eu, particularmente, tenho minhas dúvidas, mas, como o pleito teve a tutela e a curadoria por parte da Justiça eleitoral do Rio de Janeiro, tudo transcorreu de forma rápida. O ano de 2023 acabou e o Vasco, o qual tinha sido projetado para ser o novo Manchester City dos trópicos ficou, no final, sendo apenas o velho Vasco de sempre: brigando no campeonato brasileiro para não descer de divisão, com atrasos em supostos aportes financeiros (pois ninguém teve acesso integral aos documentos), com contratações feitas muito mais pelas circunstâncias do momento do clube no campeonato e com mais uma vindoura eleição, a qual elegeu Pedrinho. O Vasco permanece na primeira divisão, depois de um segundo semestre muito bom, pontuando em jogos dentro e fora do Rio, o Ramon Diaz ajudou muito naquela permanência, apesar do fim do contrato dele com o clube ser hoje (2024) alvo de litígio judicial. O ano de 2024 chegou e o Vasco vendeu atletas do time principal, não repôs jogadores no primeiro semestre, e mais notícias ruins chegaram do exterior sobre a 777. Denúncias envolvendo estelionato, calotes bilionários, esquemas de pirâmide e até sequestro. Os resultados em campo foram pífios e então o clube associativo, vendo a iminente quebra do grupo controlador da SAF vascaína, decide entrar na Justiça carioca para blindar o clube de uma falência – algo providencial e feito com sucesso. O clube associativo, em junho de 2024, passou a resolver os problemas causados pela SAF além dos antigos (pré-saf), algo turbulento e, pelo visto, até aqui, com parcos recursos financeiros. Hoje, aqueles que apregoaram as maravilhas da 777 no Vasco pelo Youtube e X (antigo Twitter) se dizem traídos, outros não se pronunciaram e outros continuam insistindo no caráter impoluto da empresa, alguns destes até pediram desculpas, mas outros nem sequer tiveram essa hombridade e alguns destes canais têm, pasmem, mais de 200 mil seguidores, um bom exemplo de insistência no erro é o caso do ex-presidente, que mesmo vendo as notícias nos jornais sobre a 777 e todo o desenrolar dos fatos em maio e junho 2024 ainda persiste na ideia. Aliás, cabe uma pergunta muito sincera e honesta: as torcidas organizadas, que apoiaram a venda para esse grupo inidôneo, não cobraram os agentes vascaínos, e a pergunta que fica é: por quê? Conveniência ou conivência? Cobrar o jogador é fácil, mas e os outros agentes? Hoje, sabe-se, ainda mais depois da repatriação do ‘cria’ Philippe Coutinho e da vinda do Souza e de outros jogadores, que o clube tem recursos para pagar as contas até dezembro deste ano, mas quanto a 2025 como fica? Haverá a responsabilização de culpados? Haverá compliance? O Vasco associativo e a A-CAP chegarão a um acordo sobre uma possível venda do Vasco para outro grupo? Surgirão outros controladores, donos do dinheiro que a falida 777 pegou e não pagou, para reclamar algum percentual de venda/revenda da parte na saf do clube? Está tudo muito confuso e o campo/bola precisa ser privado dessas bombas. Atualmente há uma ideia no clube para que seja feita uma responsabilização dos possíveis culpados pela venda e se eles sabiam que o negócio com a empresa era arriscado ou não. O que fica de lição nesse texto é que a Sociedade Anônima do Futebol ou SAF não é uma brincadeira ou um jogo, a venda para um terceiro envolve muitos passos e a cada passo deve-se ter sérios debates para se chegar àquilo que é melhor para a agremiação esportiva, pois quando não se leva em consideração a saúde financeira do grupo comprador, as cláusulas contratuais e, principalmente, a idoneidade da empresa e de seus sócios, o resultado final será, sem dúvida, o caos e o fechamento definitivo do clube. Um torcedor saudosista,