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Dizem que o Brasil só começa a funcionar depois do carnaval. Eu digo que o sofrimento do Vasco começa ao iniciar o campeonato brasileiro. Antes disso, o campeonato carioca é um laboratório e a copa do Brasil é um mata-mata para dar oportunidade a clubes de menor expressão. Assim, enquanto os clubes não se estruturam profissionalmente, vamos levando o futebol de forma amadora. Quem ganha o campeonato regional dá o maior valor, e os demais desprezam a competição. Quem vai passando de fase na copa do Brasil junta uns trocados. Quem disputa a Libertadores fica sonhando com a final, assim como na recém valorizada copa sulamericana.

Como o Vasco se habituou a disputar três competições (carioca, copa do Brasil e brasileirão) e, eventualmente a sulamericana, nosso verdadeiro sofrimento começa com o brasileirão. E parece, mais uma vez, que a história se repete.

Analisemos:

ESTRUTURA DO FUTEBOL: o presidente acumula, além da presidência, a vice-presidência de futebol, o que normalmente não dá certo, a não ser que seja supercompetente, o que não me parece ser a realidade. Como ele não faz parte da equipe de super-heróis da Marvel, sua atuação ao acumular as duas pastas está fadada ao insucesso. Os exemplos estão aí: inúmeras contratações de atletas medianos, preparação física deplorável, com grande número de contusões esdrúxulas, equipe de apoio que não demonstra segurança. Decisões equivocadas e fora de sintonia, como a de manter um treinador, durante o primeiro quadrimestre, com demissão às portas do início do brasileirão. Por que não teve coragem de efetuar a troca antes?

Um dirigente não pode demostrar fraqueza e deve buscar o que é o melhor para o seu clube. Se fossemos analisar à luz da realidade, Valentim não tinha um histórico vencedor, não havia obtido títulos de importância e nem possuía uma bagagem técnica que o credenciasse a dirigir um clube como o Vasco. Que legado deixou? Após sua saída, que grande, ou pequeno, esquema tático implementou?

EQUIPE DE FUTEBOL PROFISSIONAL: que vem demonstrando, desde o início do ano, ser de categoria mediana para baixo, antevendo muito sofrimento para o torcedor. Se as demais equipes estiverem no mesmo nível, podemos ter chance, caso contrário sofreremos até a última rodada. Perdemos quatro meses deste ano e não evoluímos tecnicamente. Nossa equipe tem um esquema de jogo confuso, indefinido e covarde. Não somos um concorrente que ameace as grandes equipes e, infelizmente, que podemos ser vencidos pelos times de menor categoria, principalmente no campo do adversário.

A CULPA É DE QUEM?

Quando se passa muitas décadas acompanhando futebol por amor ao esporte e mais especificamente, por amor irrestrito a uma instituição, fica difícil julgar resultados unicamente, pela lógica. Os anos como observador assíduo do futebol nos transforma em torcedores emocionais apesar da tendência de julgar o desempenho de forma coerente e racional.

A emoção é combustível para a vida e deve ser administrada com moderação, pois se ministrada de forma errada, domina nossa mente, transformando-a em uma bomba-relógio altamente instável, capaz de causar enormes danos. Um ar poluído com componentes desta bomba é o que se respira no Vasco, circulando no pulmão de jogadores, dirigentes, empregados, torcedores, ou seja, todos nós.

O Vasco da Gama, atual, é o reflexo de uma administração frágil, comandada por um presidente ilegítimo que acumula a mais importante vice-presidência, a de futebol, cercado de inimigos, amigos pouco confiáveis, poucos amigos leais e credibilidade negativa. Quando se assume o poder através de um golpe, necessário se faz ter apoio popular e isso a torcida e os sócios do Vasco se recusam a conceder a Campello por se sentirem traídos. Acrescentando-se a tudo isso a pouca estima que a imprensa demonstra pelo clube, o caminho se torna difícil, impreciso e tortuoso, com possibilidade de tropeços e ataques de inimigos.

A salvação de um presidente que parece condenado eternamente ao limbo, é só  uma: vencer sempre, pois só desta forma a torcida e as oposições o deixarão em paz e a crítica amainará. Infelizmente o clube não possui recursos para montar uma equipe capaz de conquistar títulos de importância nacional. Aliás, possui enormes dificuldades para pagar em dia os salários dos atletas medianos que possui, bem como seus próprios funcionários, e muito menos obter certidões que possibilitem atrair bons patrocínios e investimentos. E, apesar de reconhecermos haver um grupo de verdadeiros vascaínos fazendo um bom trabalho de saneamento, parece-nos insuficiente para colocar o trem nos trilhos: a locomotiva é muito pesada.

O PESO DA MÁQUINA

Falamos sobre o Presidente e sua ascensão ao cargo e suas dificuldades de realizar um bom trabalho e que, mesmo que acreditemos em suas boas intenções, colocar o trem na linha não depende da vontade de uma única pessoa. A locomotiva precisa de reparos urgentes.

A FAMOSA HERANÇA MALDITA: queiramos ou não, as engrenagens da máquina estão enferrujadas e mesmo que troquemos as peças e a azeitemos, a locomotiva demorará a alcançar a velocidade de cruzeiro.  Raciocinemos juntos: quando se contrai uma dívida, salvo um milagre (tipo ganhar na loteria), o pagamento se dá em longas parcelas que consomem seus recursos durante muito tempo. Isso reduz sua capacidade de investimento e o obriga a procurar novas fontes de financiamento.  Se o seu nome atrai bons parceiros, pode obter patrocinadores que sintam orgulho de associar seus nomes ao seu. Porém, se seu nome está “sujo", você só conseguirá dinheiro correndo riscos, obtendo financiamentos bancários a juros altos e com garantias leoninas.

O resultado de uma herança com muitas dívidas, fruto de administração incompetente durante décadas, acarreta muito sofrimento. São acordos e mais acordos com credores, ações na justiça com derrotas humilhantes, redução no poder de negociação com empresas do segmento, com patrocinadores, TV, fornecedores, etc.. São maus negócios e mais maus negócios, uns sobre os outros, causando prejuízos ao clube, camuflados por sabujos infiltrados nos diversos Conselhos da instituição, colocados lá com a precípua intenção de tentar dar ao poleiro uma aparência de higidez que nunca teve.

E ainda homenageamos os responsáveis, quando se vão...

A FAMOSA INÉRCIA DA REFORMA DO ESTATUTO: queiramos ou não, faz com que a máquina só possua uma marcha, a ré, que impossibilita que o Vasco ingresse no século XXI, um século de modernidade, de inovações, de reformas e avanços. Mas o Vasco continua amarrado a conceitos arcaicos como eleição decidida por um grupo de “Senhores Feudais”, contrariando a vontade dos eleitores. Dependendo de decisões de pequenos conselhos que existem para preservar “direitos" daqueles que se julgam acima da maioria e preservam a vaidade como uma virtude, sem se preocupar com o interesse coletivo.

Um Estatuto que não define claramente as formas para se associar ao clube, os direitos e deveres de cada categoria de sócios, normalmente confusos e mal explicitados. Não facilita a associação de pessoas que residem em locais distantes da sede e que desejam ingressar como sócios com direito a voto e que desejam votar sem precisar viajar até o Rio de Janeiro. A cada lançamento de programa de sócio (coisa que os presidentes  adoram...) a coisa fica mais confusa. Ninguém sabe se o plano anterior continua valendo, se vai continuar tendo manutenção ou vai ser abandonado, caindo no esquecimento.

Um Estatuto, regulamentos e normas precisam ser redigidos de forma concisa, clara e objetiva Todos os instrumentos administrativos devem ajudar o funcionamento da instituição, dando-lhe um sentido único, evitando dupla interpretação. Estrutura administrativa definida e departamentalizada de tal forma que se conheça a importância e o peso relativo de cada setor, evitando os tais “cabides de emprego" e o nepotismo, descomplicando a gestão.

O SONHO

Não fosse a sacanagem de algumas pessoas, que insistem em olhar para seu umbigo (ou bolso) ao invés de tentar fazer o melhor para o Vasco, ainda teremos uma próxima eleição regida por instrumentos mesquinhos, ultrapassados, ineficientes e manipuláveis. Tomara que, pelo menos, não tenhamos mais “urnas7”. Que a secretaria se organize e tenha um arquivo de sócios fidedigno e confiável. Tomara que o Conselho tome vergonha na cara e referende o presidente mais votado pelos sócios.

Quem sabe não estejamos tão longe de termos eleições diretas, um Estatuto e Regulamentos modernos, um quadro de sócios gigantesco, grupos unidos em prol do Vasco, investidores confiando e lutando para associar seus nomes ao do clube, transparência total, times competitivos e vitoriosos. Que o orgulho de sermos vascaínos não se resuma ao respeito que temos ao passado brilhante do clube mas, também, a uma expectativa de um presente melhor e um futuro promissor, próspero e feliz.

Por enquanto é só isso. Quanto ao resto de 2019, que Deus minimize nosso sofrimento.

Saudações Vascaínas!

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