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A ERA ROMÂNTICA DO FUTEBOL
Quando comecei a acompanhar futebol, na década de 1950, ainda criança, as transmissões dos jogos pela televisão eram raras e rudimentares. Poucas câmeras (uma ou duas, no máximo), transmitiam jogos em preto e branco. Apenas as emissoras de rádio faziam as transmissões, regularmente. Se quiséssemos saber mais alguma coisa sobre um jogo, líamos no jornal do dia seguinte. Algumas mesas redondas ou resenhas esportivas possuíam público cativo nas poucas emissoras de TV, normalmente nos domingos à noite. Narradores como Waldyr Amaral, Jorge Cury, Oduvaldo Cozzi, Luiz Mendes, Orlando Batista, Doalcey Bueno de Camargo se destacavam como locutores esportivos preferidos do público carioca. Comentaristas como João Saldanha, Benjamim Wright e o famoso ex-árbitro de futebol Mário Vianna (com dois “enes”), eram especialistas em analisar as partidas e seus protagonistas. Rádios como a Globo, a Tupi, a Tamoio (até dedicar–se exclusivamente à música), a Nacional, a Guanabara (futura Bandeirantes), a Mauá, a Mayrink Veiga e a Continental, por exemplo, eram as responsáveis pelas transmissões e quem não ia ao campo, fiava-se nas informações transmitidas pela latinha (apelido dos microfones de então). Mesmo quem comparecia ao estádio (nada de arena, só estádio ou, simplesmente, campo de futebol), não dispensava os famosos radinhos de pilha portáteis (novidade e febre tecnológica da época).
Não havia troca de informações e raramente tínhamos notícias do futebol jogado em outros estados. No Rio de Janeiro os jornais e as emissoras de rádio dedicavam quase toda programação esportiva aos clubes “da casa”. Pequenas notas se referiam ao que acontecia em outros estados, normalmente São Paulo. Dos demais campeonatos, pouca coisa se sabia. A paixão regional pelos clubes da capital influenciava na pouca divulgação dos assuntos relativos aos clubes de outros locais. Claro que não havia computador, nem internet, nem campeonato brasileiro (só Rio–São Paulo), muito menos ouvia–se falar em “globalização” ou redes sociais, portanto havia dificuldade em obter-se informações de times “de fora”. As máquinas mais modernas eram a máquina de escrever (utilizada em escritórios, em redações por jornalistas ou escritores) e um trambolho caro chamado “máquina de Telex”, que transmitia as notícias mais imediatas através de um sistema internacional de comunicações escritas (uma espécie de código morse) que desapareceu antes do final do século XX. Para o público em geral, o telegrama era a forma mais rápida de se conectar com alguém ou divulgar uma notícia urgente (normalmente cumprimentos ou pêsames). No Brasil (sempre no Brasil...) as linhas telefônicas eram caríssimas e raras e nem sempre os aparelhos completavam as ligações.
QUANDO O FUTEBOL PERDEU O ROMANTISMO
Num mundo em que nem todos tinham o privilégio de ouvir “em primeira mão” as “últimas” notícias, não era difícil entender a facilidade que existia para manipular a informação. E os jornalistas sabiam como tirar proveito disso, usando a informação privilegiada como forma de crescer na carreira. Divulgar um “furo de reportagem”, dando uma “rasteira” nos colegas de profissão, era um grande passo para a fama. E assim, a relação entre atletas, “cartolas”, emissoras e jornalistas, se regia por regras próprias, não necessariamente hígidas.
Foi nesse ambiente, de muito romantismo e ficção, que surgiram e se desenvolveram as carreiras de muitos dos profissionais de jornalismo esportivo citados acima. Também neste segmento futebolístico, nem sempre envolvidos por uma áurea de paixão, competência e amor clubístico, proliferaram oportunistas e dirigentes mal intencionados. Estes desclassificados, aproveitavam-se das oportunidades que o esporte oferecia, para saciar sua sede de poder no cálice da vaidade, oferecido, por vezes, em forma de cargos em clubes, associado a vantagens pecuniárias substanciosas. Uma vez inoculado com o vírus vulgar da ilegal pecúnia, viciavam-se nesta prática e a transformavam em ganha pão. Assim como ocorre com todo marginal, seja ele um político, um empresário, um empregado, um desempregado ou um simples cidadão, o primeiro deslize é sempre o mais penoso e, daí em diante, a sensação de culpa vai desaparecendo, substituída pela audácia, pela “cara de pau” e ganância.
A POLITICAGEM E OS MAUS HÁBITOS VIRAM REGRA
A estrutura do futebol é muito semelhante à estrutura política. Alcançar a presidência de um clube de futebol fornece oportunidades únicas para o vaidoso, o ganancioso, o pretensioso e o mal intencionado. Um clube com muitos torcedores ganha uma projeção maior na mídia e um apelo comercial maior, que atraem maus dirigentes, de olho na chave do cofre. Existe uma relação direta entre a quantidade de torcedores e o valor de um clube. Alguém tem dúvida de que o Vasco vale mais (com todo o respeito) do que a Portuguesa da Ilha do Governador? Alguém tem dúvida de que o atual presidente do Vasco cancelou sua aposentadoria e voltou a dirigir o Vasco porque os holofotes do Gigante da Colina brilham mais do que os de outros clubes?
Infelizmente, para nós torcedores e, também para os sócios do Vasco, o retorno do presidente se deu em época e século diferente da era que lhe concedeu fama e protagonismo. E ele não se apercebeu disso.
No tempo romântico do futebol de bola de capotão, que dobrava de peso em campo molhado, os arroubos dos dirigentes e a fanfarronice de muitos deles possuíam espaço no imaginário dos torcedores. Porém, com a revolução das comunicações, da informática e o surgimento das redes sociais, a bizarrice e as bravatas de uma era amadora não se harmonizam com o profissionalismo exigido hoje. Até o mais alienado dos torcedores cobra resultados dos atletas e seriedade dos administradores dos clubes. Mas nosso presidente não se apercebeu disso, também.
Dando entrevistas, participando de programas e concedendo coletivas quando lhe dá na telha, com argumentos estapafúrdios e ultrapassados, apresentando documentos “pela metade”, ofendendo concorrentes e os maiores atletas que o clube possui, demonstrando uma falta de modéstia inconcebível, agarrando-se ao cargo como se fosse o mais competente dos seres humanos (só comparável a outros membros da família...), o presidente se transformou em um personagem caricato que arrasta o clube para o fundo do poço da credibilidade. A palavra “dirigente” é a mesma do seu primeiro mandato mas o significado mudou. Isso todo mundo enxerga, mas ele, mais uma vez não se apercebeu.
Humildade não faz parte de seu dicionário, ele não percebe que faz muito mal ao Vasco. Como torcedor, avalio as pessoas que passam pelo Vasco pela ótica benfazeja da contribuição. Não avalio por atos ou fatos, mas sim pelo conceito final ou como se diz, “pelo conjunto da obra”.
OS PATROCINADORES SÃO INVESTIDORES
Utilizando esse conceito de avaliação final de suas participações, apelo para as comparações entre os dois últimos presidentes: Dinamite foi um péssimo administrador, mas foi um ótimo exemplo como atleta do clube. Eurico foi e é um péssimo administrador e nunca foi nada mais do que isso. Dinamite usou seu prestígio de atleta (mesmo que alguns considerem pouco) para conseguir alguns patrocínios e verbas para o clube, após um longo jejum de grandes investidores permanentes. Eurico perdeu quase todos os patrocínios na sua gestão anterior e herdou alguns patrocínios da gestão de Dinamite, alguns dos quais vem mantendo e renovando com valores inferiores aos anteriores.
Do ponto de vista do mercado, mais valia investir num clube administrado por um dos seus maiores ídolos do que colocar dinheiro num clube administrado por um dirigente ultrapassado e de atitudes éticas e morais pouco convincentes. Eurico dá de goleada no quesito “episódios insólitos e mal explicados”.
Independentemente de quem causou maiores danos ao Vasco (apesar de que para mim não há dúvida), o importante é que há mais de 20 anos o valor do Vasco vem declinando, por conta das desastrosas administrações que passaram pelo Vasco.
AS CAMPANHAS MOSTRAM A VERDADE
Muitas pessoas não gostam de estatísticas mas com relação ao Vasco talvez elas demonstrem uma realidade que os administradores não gostam de ver divulgadas. Todos sabem que antes de 2001 Eurico Miranda era coadjuvante nas administrações Vascaínas, principalmente nas comandadas por Antônio Soares Calçada. Com a primeira eleição do século 21, em 2001 ele tomou posse na presidência do clube. Por isso, resolvemos mostrar os resultados obtidos pelo futebol, antes e depois das administrações de Eurico e Dinamite.
Desde 1959 até 2016, 60 competições de nível mais abrangentes foram disputadas. Em 1967 e 1968, a Taça Brasil e o Torneio Roberto Gomes Pedrosa (Robertão/Taça de Prata), foram disputados simultaneamente. A partir de 1971, foi disputado o primeiro Brasileirão.
Desde 1959 até 2000, foram 44 competições (não esquecendo das duas ocorridas em 67 e 68). O Vasco não participou de 8 disputas. Das 36 que participou, em 20 delas se posicionou entre os 10 melhores classificados e em 16 ficou fora do “top ten”. O desempenho percentual do Vasco foi o seguinte: 56% entre os 10 primeiros e 44% fora dessa lista.
Entre os anos de 2001 e 2016, o desempenho foi pior: dos 13 certames nacionais disputados na série “A”, 4 vezes ficou entre os dez melhores classificados e 9 vezes ficou entre o décimo primeiro e o vigésimo lugar. Percentualmente falando, ficamos 31% entre os dez primeiros e 69% fora das dez primeiras colocações.
A estatística mostra que desde 2001 o desempenho do Vasco vem piorando.
Infelizmente há mais profissionalismo entre os atletas do que entre os dirigentes. Jogadores aprendem mais cedo que precisam cuidar de suas carreiras e se afastam do amor pelo clube, privilegiando os contratos bem feitos, enquanto os dirigentes se deixam levar pela vaidade e se apegam a interesses pessoais. Como resultado temos atletas sem amor ou dedicação ao clube e dirigentes mal preparados e/ou mal intencionados, que resulta em futebol sem emoção e torcedores frustrados.
Sem campanhas convincentes em campo e com gerenciamento atabalhoado nos gabinetes, não há otimismo e a esperança se esvai. Só um milagre fará o Vasco ressurgir das cinzas. No mais, aumentar a capacidade de São Januário para 30 mil torcedores é jogar dinheiro fora. Hoje, Vasco, seu nome é utopia... Tomara que esteja errado, me cobrem...
S.V.