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A expressão usada no título normalmente se aplica a situações em que há inversão de papéis. Por exemplo, a mulher que manda no marido, o filho que dá bronca nos pais ou o funcionário que briga com o chefe. Acontece também quando alguém toma uma atitude que não está em seu perímetro. Por exemplo, normalmente não há cabimento um operário discutir com um engenheiro qual a melhor opção para executar um projeto, ou o paciente querer discutir com o médico qual o melhor tratamento para o seu caso. Nesses casos, a tomada de decisão cabe ao Engenheiro e ao Médico, e eles não precisam depois disso ir na TV explicar o motivo de suas decisões.
Essa semana vimos no noticiário sobre a manutenção do nobre Jorginho e seu escudeiro Zinho no comando do time, pelo menos até o fim da Série B. Essa expressão "pelo menos até o fim da Série B", esbravejada pelo Rei da Terra dos Charutos, para logo depois dizer que "Comigo não há pressão" mostra exatamente o nível de administração que o Vasco possui. Explico mais adiante.
Em qualquer empresa séria, existe alguém responsável pela tomada de decisões. Ela não é necessariamente a pessoa que conhece todos os processos da entidade, tampouco é a dona da verdade: simplesmente é a pessoa que consegue fazer uma boa gestão de pessoas, que consegue obter as melhores informações de seus subordinados e usa o poder da informação para tomar a decisão. Às vezes comete erros, mas nunca toma uma decisão sem antes se cercar de alternativas. E também não precisa ir a público todo momento explicar suas decisões, ele tem a convicção de ter tomado a melhor decisão que poderia ter tomado de acordo com as informações que possuia.
Porém, o mandatário vascaíno faz questão de contrariar prognósticos e continua, vejam só, nos surpreendendo. Primeiro: Se ele decidisse demitir o Jorginho, estando com razão ou não, estaria em seu direito. Ao tomar a decisão de não demitir, também está exercendo seu direito como Presidente. É claro que em algumas ocasiões é necessário bom senso, vir a público explicar algumas decisões, especialmente se essas decisões implicam em mudanças. Convocar uma entrevista coletiva para dizer que "o Jorginho continua", pra mim, foi um atestado de que Eurico está isolado do restante da cúpula vascaína. Esbravejar que "aqui quem manda sou eu" normalmente serve para mandar recadinho, e isso é tudo o que um verdadeiro líder não precisa, o que claramente o charuteiro não é.
Aí estão as inversões de papéis: Eurico dando satisfações para a imprensa sobre uma decisão tomada (ou deixar de ser tomada, no caso) e mandando recadinho pra quem não concorda com seus métodos. Na verdade, seu papel como gestor seria o inverso: ele precisava ouvir e tomar a decisão mais correta, ao invés de contrariar todo mundo, e não precisava dar entrevista para se justificar. Claro que não vai agradar a todos, mas expor o racha da diretoria publicamente só piorou as coisas.