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Cenário número 1: Eurico Miranda, Presidente do Club de Regatas Vasco da Gama, adentra ao vestiário do árbitro a pretexto de lhe desejar boa sorte e presenteia-o com um kit uniforme do clube. Duas horas mais tarde, o Vasco vence seu adversário com um pênalti inexistente (sim, pois ao menos no Globoesporte.com e no ESPN, quando é a favor do Vasco o veredicto estampado em suas manchetes é esse; quando é contra, o termo "inexistente" migra para "polèmico", e logo é atenuado até que o fato caia no esquecimento).

Cenário número 2: Rubens Lopes, Presidente da FFERJ (a quem eu mesmo em outras épocas disse e repito que, por minha vontade e independentemente do título ganho DE FORMA JUSTA pelo Vasco em 2015, deveria ser extinta e fundada uma nova federação ou uma liga de clubes cariocas com caráter SÉRIO e INDEPENDENTE dos anseios da mídia, em especial, a que patrocina o campeonato carioca), é elevado ao cargo de um dos Vice-Presidentes da CBF, e clubes como o Vasco, em especial, vencem jogos seguidos ou conseguem criar resultados não-adversos fruto de "equívocos" seguidos das arbitragens, em especial, de árbitros já conhecidos e que são do desgosto da maior parte dos torcedores de determinados clubes, esses sempre prejudicados pelos mesmos. A crônica esportiva, logo, fala em profissionalização da arbitragem, do fator humano, do direito de errar, da idoneidade do cidadão do apito...como forma de justificar às tais "coincidências". Os comentários gravitam em torno dessa atmosfera e o assunto, logo, é encerrado.

Cenário número 3: O Vasco deixa de vencer uma partida fora de casa, fruto de sua incompetência técnica em não saber decidir um jogo com um jogador a mais durante um tempo inteiro, e também por conta de um pênalti no segundo tempo (para mim, ainda mais claro do que o primeiro pênalti assinalado) e de uma falta ao seu favor não assinalada em lance do empate do time adversário. Ao final do jogo, seu goleiro dirige-se às emissoras de rádio e de TV e afirma que "esse pênalti que o árbitro deu já estava marcada há uma semana". A imprensa, logo, faz a associação do lance com as palavras do Presidente Eurico Miranda, que de forma JUSTA e ATIVA (afinal, em seu lugar e independentemente das restrições com muitas de suas condutas, dessa vez fez o que tinha de ter feito desde a partida contra o Cruzeiro), reclamou e colocou sob suspeita a a presença do VP da CBF, Delfim Pádua, no vestiário dos árbitros antes dos jogos.

Os dois primeiros cenários elucidados referem-se a colocações fictícias, baseadas numa inversão de papeis pautadas em acontecimentos reais. A primeira questão a ser levantada: será que a repercussão, de certa forma, passiva da imprensa esportiva demonstrada nas situações reais de total prejuízo ao Vasco e em benefício aos clubes catarinenses seria a mesma...?

O site www.placarreal.com.br, em dezembro de 2011 e logo ao fim do certame da época, indicou o Vasco campeão brasileiro daquele ano excluídos os "equívocos" de arbitragem, que lhe tiraram ao menos OITO pontos e que, com eles, o Vasco seria campeão brasileiro, inclusive, com uma rodada de antecedência. Se o mesmo estiver sendo computado nessa época,com certeza estaria o Vasco, com todas suas limitações, com todos os erros cometidos e a VERGONHA passada no primeiro turno e até a 23ª rodada desse campeonato, na zona "água de salsicha" ao menos, não brigando por nada, inclusive, cair de divisão.

Em contrapartida, há a publicação de duas matérias pelos veículos de imprensa: "Vasco lidera lista de pênaltis marcados com base em recomendação da CBF” (fonte: Jornal de Brasília ); e "Vasco estaria fora do Z4 desconsiderando os últimos cinco minutos dos jogos" (Fonte: Globoesporte.com). Sobre a primeira matéria, chega a ser risível colocar o Vasco de forma subliminar como potencial ajudado em contraponto aos fatos que demonstram as subtrações causadas pelos "equívocos" de arbitragem, esse sim muito mais latentes dos que os pênaltis assinalados - TODOS, no máximo, questionáveis em um ou outro, mas perfeitamente aplicáveis às determinações do comitê de árbitros.

Com relação à segunda matéria, fica evidente a forma de querer se transferir toda a culpa da posição VEXATÓRIA do Vasco somente aos gols por ele tomados ao fim de alguns jogos. Esquecem-se, no entanto, que dois desses jogos foram contra Chapecoense e São Paulo, com gols tomados nas condições que a história registra e, em especial contra a Chapecoense, ainda a aplicação de "dois pesos, duas medidas" em lance de pênalti MUITO mais acintoso do que o assinalado contra.

Em alusão ao terceiro cenário, esse de fato real, a questão é: o porquê da repercussão maior em torno de uma declaração inverídica de Rogério Ceni, sabendo a imprensa esportiva que: 1º) tal pênalti assinalado e de onde nasceu o gol de empate do Vasco convertido por Nenê está dentro dos padrões do que a Comissão de Arbitragem de Futebol determina como "risco assumido", portanto, infração; 2º) tal reclamação do Presidente do Vasco é legal, justa e correta, e nem por conta dela o Vasco deixou de ser prejudicado pela arbitragem, em mais um jogo.

É evidente que a mídia esportiva tenta, de todas as formas, valorizar seu produto comercial. Afinal de contas, a maior emissora de TV do país banca uma fortuna por temporada para ter os direitos de transmissão desse e outros certames. Logo, nada pior do que atentar contra o próprio produto, desvalorizando-o. Surpreende-me, no entanto, a obscuridade no qual trata a questões que, dia após dia, desanimam o torcedor e põe sob suspeita um campeonato por inteiro. Obscuridade essa que logo nos remete ao questionamento: e se o clube sistematicamente beneficiado fosse o Vasco, tendo como outdoor Eurico Miranda? Será que tal passividade seria a mesma? Ou haveria o bombardeio jornalístico?

Ainda que tente-se, através de manchetes e comentários apaziguadores ou mesmo através da omissão por tratar com a verdade, torcedor de futebol vê jogo, raciocina, compara, sabe que tal certame está no mesmo contexto do país em que a Petrobrás é sucateada por corrupção, que a Presidenta da República tenta reviver (mais um) imposto por conta das mazelas que foram cometidas nos cofres públicos corrompidos em seu valor, e por aí vai...Sabe que vive num país de injustiças sociais, em que a regra para um é clara, para outro, depende da interpretação.

Vive e assiste o mesmo campeonato que, um dia há dez anos, já houve caso de fraude comprovada, ou ao menos de tentativa. A biografia "Cartão vermelho", escrito pelo ex-árbitro Edílson Pereira de Carvalho, se fosse levada com mais seriedade poderia chamar às falas alguns dos dirigentes ali citados, outros citados e que ainda militam no futebol brasileiro, ou no pior caso, colocar a partir de então sob júdice qualquer conjunto de acontecimentos que signifiquem "estranhezas", ou algo próximo do que possa dar o descrédito ao torcedor sobre a competição no qual é comprada pela própria mídia por um grande valor.

Ou não seria uma suposta imagem que circulou durante a semana de Sandro Meira Ricci com Delfim de Pádua almoçando juntos em local público mais um dos argumentos que põe em xeque a lisura do campeonato? Daí o cenário fictício 4: digamos que a figura fosse de Eurico Miranda almoçando com o mesmo, mais uma vez o questionamento> qual seria o comentário da mesma referida mídia esportiva?

Que fique claro, apenas, duas coisas nesse artigo: 1º) Independentemente da ausência de futebol demonstrada pelo time do Vasco durante o campeonato por sua própria torpeza, pelo seus próprio erros: ainda assim, hoje o Vasco não ocuparia a zona que está, fosse o fator arbitragem com critérios justos a ambos os lados. Em mais um certame e, agora, eu mesmo já perdi a conta de há quantos isso não acontece, o Vasco chega ao seu final, até o momento, sem UM ÙNICO JOGO claramente favorecido pelo árbitro, sujeito sem fé pública tal como um juiz de Direito, esse sim, magistrado por sua própria competência intelectual, ao contrário do cidadão humano capaz de tudo o que uma pessoa possa (ou não) fazer. Outrora sem argumentos para se queixar, hoje o Vasco possui a seu favor o fato de que, finalmente e de forma MUITO tarde, entrou no campeonato pra valer.

E 2ª e última colocação: que uma parte da torcida do Vasco deixe suas preferências políticas internas e ajude a quem nos representa a fiscalizar bem esse final de certame. Deixemos as críticas e, até mesmo, os anseios políticos para depois de dezembro, pois pior do que qualquer Presidente que tenhamos no poder do clube, MUITO PIOR institucionalmente seria (ou será) uma nova queda para a segunda divisão.

@mscmariotti

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