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Saudações vascaínas,

É um imenso prazer inaugurar esse novo espaço como blogueiro Supervascaíno. Uma breve apresentação minha: Me chamo Guto Ribeiro, tenho 34 anos, e além de possuir uma cruz de malta no lugar do coração, já fui colaborador do site Supervasco entre 2005/2006, participei dos primeiros anos do programa de rádio “Só Dá Vasco”, e fui também moderador do fórum do site Netvasco. Desde essa época alguns me conhecem como Guto, outros como Otavio, outros como Ribeiro, não importa! Será um prazer escrever por aqui pra vocês sobre as coisas do nosso Vascão.

O momento atual é difícil, e infelizmente essa tem sido uma realidade nos últimos anos. Nesse momento não cabe apontar culpados, nem A, nem B, nem C...vamos deixar isso pro final do campeonato. Iniciamos 4 jogos atrás uma arrancada que até um mês atrás parecia completamente impossível e por conta disso gostaria de iniciar meus textos nesse espaço com uma história de motivação.

Motivação essa não só aos jogadores e a comissão técnica, mas também a nós torcedores, para que juntos, possamos transformar esse amor que é meu, do meu irmão, do meu avô, do meu pai, de vocês e de cada coração vascaíno, em garra e suor dentro de campo e nas arquibancadas.

No final de 2010, houve uma promoção da Brahma que permitiria aos ganhadores jogarem uma partida de 15 minutos em São Januário, vestindo a camisa do Vasco. Como em novembro seria aniversário do meu irmão, Julio, 21 anos na época, tomei a liberdade de mandar a frase no nome dele, na tentativa de presenteá-lo.

E não é que fomos selecionados?

Duas semanas antes do dia mais especial das nossas vidas cruzmaltinas meu irmão foi internado no hospital Quinta D'or, com uma tuberculose pleural. Mal conseguia respirar e os sucessivos dias de internação traziam angústia à nossa família. Me lembro de dormir com ele um dia no hospital e somente em um único procedimento médico ser retirado um volume assombroso de líquido dos pulmões dele. A cada dia ficava mais distante a realização do sonho de todo moleque vascaíno: pisar no gramado sagrado de São Januário.

Depois de muito sofrimento, 3 dias antes do evento, meu irmão recebeu alta do hospital, ainda bastante debilitado, para iniciar um novo tratamento que duraria pelos próximos meses em casa. Ele estava terminantemente proibido pelo médico de realizar qualquer atividade física.

No sábado, dia do evento, recebo um telefonema da minha mãe às 6 da manhã. Meu irmão havia acordado, separado a chuteira, e dito que iria ao jogo. Se não fôssemos com ele, ele iria sozinho, e não haveria cristo que o segurasse em casa.

Peguei o carro e fui até lá tentar demovê-lo da ideia. Doce ilusão. Em 1 hora, eu, meu pai, meu irmão e sua namorada (hoje esposa) seguíamos rumo ao estádio de São Januário com a promessa dele de que receberia o uniforme, entraria em campo, e ficaria parado durante os intermináveis 15 minutos de duração.

Sentados nas sociais de São Januário, nos sentíamos irresponsáveis. Eu e meu pai. E se algo acontecesse com ele? Certamente iríamos nos culpar pelo resto de nossas vidas.

Mas haveria peso maior do que o de impedir um vascaíno de vestir a cruz de malta tão amada desde a infância, de tocar o gramado sagrado de São Januário, de olhar pra cada rosto nas arquibancadas e ter a sensação maravilhosa que só cada um dos jogadores que tem o privilégio de vestir essa camisa sagrada podem sentir toda semana?

Alguns quilos mais magro do que sempre foi, pálido, com febre, e vestindo a camisa 7 cruzmaltina, depois de uma preleção do nosso ídolo Carlos Germano, entrava em campo o vascaíno Julio Ribeiro. Aquele que havia nascido no ano do gol do Cocada. Que havia chorado feito criança de tristeza no gol do Pet. Que havia sido jogado pro alto por nós nas comemorações da virada da Mercosul. Que havia saído do hospital dias antes.

Simplesmente um vascaíno como outros milhões que dariam a vida pra viver aquele momento. Na alegria e na dor.

Obviamente, ele não atendeu nosso pedido de ficar parado. Cambaleante, sem fôlego nenhum por conta da doença, partiu pra cima em direção a área, deixando alguns adversários pra trás. Caiu inerte dentro da área. Da social, a lágrima de medo presa em meu rosto. O grito sufocado no peito. Ele desmaiou? A vontade era de invadir o campo.

Não.

Pênalti.

Eu só queria tirar ele dali. Meu pai, mais pálido que ele, só queria que ele saísse.

Pro nosso alívio ele levantou. Pegou a bola. Ninguém iria tirar aquilo dele. Não mesmo. Nem eu. Nem meu pai. Nem o médico. Nem a tuberculose. Nem a febre. Nem o sol das 10 da manhã no verão carioca.

Pausa. Assim como nada seria capaz de tirar dele aquele momento, nada deve ser capaz de tirar das arquibancadas o nosso apoio, e nada deve ser capaz de tirar da alma dos nosso jogadores a vontade de virar esse jogo, essa jornada que muitos já davam como perdida.

Olhando fixamente para a estátua do Romário ele caminhou. Bateu na bola. E ergueu os braços ao vê-la tocando a rede que ele tanto amava desde criança. Olhando a capelinha, que o iluminava e permitiria que ele saísse dali realizado e com saúde, uma certeza ele tinha. Missão cumprida.

Sim, eu chorei. De alegria, de angústia, de pavor que algo acontecesse ao meu irmão caçula, mas também de alívio. Aquele gol era o mais importante da minha vida.

Depois do gol, ele saiu de carrinho elétrico, sem condições sequer de andar...ficou os últimos minutos de fora, sentado, sem forças, aguardando o término do jogo.

Voltamos pra casa. Ele, com febre, porém vivo e realizado.

E eu com uma única certeza:

Não se pode amar mais do que cada um de nós, milhões de vascaínos, loucos, apaixonados, irresponsáveis, e principalmente, felizes, amamos ao Clube de Regatas Vasco da Gama. Que cada um dos jogadores que vestem essa camisa entenda isso e nos represente em campo.

Vamos confiar nessa virada e transmitir nosso apoio até o último minuto do último jogo!

E aos jogadores, que levem pra campo um pouquinho do nosso amor, da nossa dedicação, da nossa história e tenho certeza que o milagre acontecerá.

E assim cada um deles terá o nome gravado na história do Clube de Regatas Vasco da Gama pelos motivos que tem que ser. Que fiquem marcados pelo título carioca, pelo título da Copa do Brasil (EU ACREDITO!) e pela arrancada histórica da permanência na série A.

E que nós, tenhamos mais histórias bonitas como essa pra contar.

/+/ Saudações Vascaínas /+/

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