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Aproveito uma vitória suada contra o ABC para contar uma história. Como eterno otimista, achava que um dia o Vasco corrigiria o que internamente estava errado e eu não precisaria mais escrever no SUPERVASCO.COM. Triste ilusão. Parece que os problemas do Vasco são insolúveis. O mundo vai acabar e os problemas permanecerão.

A tentativa de aprovar as eleições diretas, que é um anseio de todo vascaíno, e pendurar várias propostas duvidosas para serem votadas de uma só vez na Assembleia Geral dos sócios continua sendo tentada pelos maus vascaínos. Veremos como o presidente da AGE colocará o assunto no dia “D”. Ele é a favor de votar as eleições diretas em separado. Veremos se tem força.

Em tempos de coronavirus, radicalismo político, dificuldades financeiras, egoísmo galopante, intransigência, etc., etc., etc., fica difícil manter a calma e a serenidade. E quando o futebol se torna uma das poucas válvulas de escape para combater nossas dificuldades diárias e os resultados em campo não acontecem, a frustração se torna evidente.

A paciência da torcida do Vasco está chegando ao fim. Alguns dizem que já ultrapassou o limite do razoável. Não discordo. Para os torcedores de outros clubes e para os apreciadores de outros esportes, pode parecer que a torcida do Vasco é intransigente, exigente ou implicante. E eu confesso que uma pequena parte é.  Mas afirmo, com convicção, que a torcida do Vasco, em sua maioria, é paciente, otimista e, acima de tudo, está sempre disposta a ajudar o clube. Nem preciso repetir as últimas demonstrações de amor ao clube. Quando chamada a contribuir, ela nunca se nega. Mas até quando?

Há algumas décadas as administrações do Vasco vem destruindo o clube. Também não preciso mostrar os muitos erros, inconscientes ou propositais que causaram prejuízos ao Vasco. Não preciso, também, somar o valor desses prejuízos porque se fosse apresentar um resultado final dessas perdas, a maioria dos torcedores, sócios ou não, desistiriam do Vasco ou teriam um troço, uma síncope, um colapso.

Às vezes penso que é de propósito. Não consigo entender que existam tantos indivíduos incompetentes com vontade de administrar o clube. Passam gestões e mais gestões e os exemplos de ações erradas e inconsequentes se sucedem umas atrás das outras, sem que os erros sejam corrigidos ou os culpados sejam penalizados. E, infelizmente, pela falta de oxigenação dos quadros responsáveis pela administração do clube, sejam na direção e nos seus conselhos, tudo continua seguindo o caminho da insolvência.

Quando o saudoso Antonio Soares Calçada chegou ao Brasil em 1935 e se tornou sócio do Vasco em 1942, meu avô já era sócio proprietário desde o início da construção de São Januário, em meados da década de 20. Calçada foi o último presidente do Vasco antes da tentativa de instauração da dinastia Miranda. Apesar dos muitos anos em que permaneceu na presidência do Vasco (de 1983 até o início de 2001) Calçada ficou conhecido pelo seu tom conciliador e negociador.

Eurico Miranda foi presidente entre o início de 2001 e meados de 2008 e, novamente entre 2015 e 2017. Anteriormente fora Vice-Presidente de Futebol entre 1990 e início de 2001, sob a presidência de Calçada.

Quando era Vice-Presidente de futebol já aspirava o cargo de presidente e nada mais favorável às suas ambições do que tantos anos como dirigente de futebol de um dos maiores clubes do Brasil e do mundo. Quando chegou lá, usando o caminho que já havia pavimentado, se mostrou um administrador autoritário e monocrático. Ninguém o contestava e seu jeito irônico, misto de comediante e imperador, ganhou espaço no meio esportivo e na mídia. Assim, com toda pompa de um monarca absolutista, se instalou no trono vascaíno.

Durante muito tempo permaneceu dando as cartas, quase sem oposição. Mas tantas decisões monocráticas e injustificadas se acumularam durante sua passagem pela presidência, que a cobrança veio e o preço foi alto. Acabou desistindo de concorrer, sendo derrotado moralmente pelo mais novo rival e antigo ídolo do clube, Roberto Dinamite. Agarrou-se ao cargo sendo removido do trono a muito custo, prometendo nunca mais botar o pé em São Januário. Promessa que sabíamos ser impossível cumprir, porque já àquela época havia criado a fama de bravateiro.

Entre 2008 e 2014 tivemos duas gestões de Roberto Dinamite. A primeira promissora e a segunda desastrosa. Já a essa altura os vascaínos sabiam que a herança de Eurico era um misto de dívidas antigas, dívidas novas, algumas reais, outras duvidosas e muita confusão administrativa, contábil e jurídica.

Dinamite, ao invés de bater de frente e auditar o passado, contemporizou e acabou metendo os pés pelas mãos. Resultado: o que já  tinha um cheiro ruim acabou deteriorando de vez. O que já era difícil de resolver acabou se complicando e abriu oportunidade para o retorno de Eurico.

Que ele seria incapaz de cumprir a promessa de não colocar os pés no Vasco, nós já sabíamos, mas que uma nova gestão dele pudesse piorar as coisas para o Vasco nós duvidávamos. Mas eis que Eurico conseguiu se superar. Já debilitado fisicamente, só conseguiu cometer mais desatinos, deixando muitos abacaxis para a próxima administração, que ele não conseguiria emplacar. Os sócios já estavam abrindo os olhos.

Mas ir para a Sibéria ele não iria mesmo. Sair pela porta de trás, também não. Restava, então, aprontar mais uma: interferir na eleição que Julio Brant ganhou mas não levou. Junto com o presidente do Conselho Deliberativo, Roberto Monteiro e com Alexandre Campello, aliado de Brant na chapa vencedora nas urnas, armou um golpe que impediu que a vontade dos sócios fosse realizada. O grupo golpista, na reunião do Conselho que referendaria a escolha dos sócios, desprezou a preferência das urnas e colocou na presidência o traidor.

Mais um capítulo nefasto na história do Vasco. Um Vasco que tem a mais bela história do esporte brasileiro e mundial e que esses dirigentes, desde 2001 vem tentando destruir, passou a ser administrado por um presidente ilegítimo.

Aí começa mais um capítulo sombrio da história do clube mas que é facilmente explicável: um golpe contra a escolha democrática da maioria dos eleitores só pode dar errado. Resumindo: o voto do sócio jogado no lixo só podia dar merda. Dito e feito: a camarilha formada para aplicar o golpe acaba se dissolvendo, por causa da morte de Eurico e a luta por seus despojos, por causa do olho grande do presidente do Conselho Deliberativo, querendo o cargo de “Primeiro Ministro” e por causa da ambição do presidente da Diretoria Administrativa em se transformar em monarca absolutista.

Quem vai suceder Eurico, não sei. Aliás, acho que nem precisaria. Se Monteiro conseguirá posição de destaque no próximo conselho, também não sei. Mas que a posição de Campello é delicadíssima para seu futuro como influenciador dentro do Vasco, lá isso é. Há muito tempo não vejo um presidente com tão pouco apoio e com uma popularidade tão baixa junto à torcida.

Isso é o resultado de quem dá um golpe, assume o poder e demonstra sua incompetência em administrar um clube esportivo e acaba adotando posições autoritárias, fruto da soberba, vaidade, orgulho, pedantismo e ausência de humildade e sobriedade.

Entendo a revolta da torcida do Vasco e acho justa. Seria injusta se o nosso atual presidente tivesse sido eleito diretamente pelos sócios, com apoio da maioria da torcida. Infelizmente isso não aconteceu e o que vemos é a transformação de uma triste previsão numa infeliz realidade.

Não gostaria que isso ocorresse. Preferia que, apesar do golpe, ele conseguisse nos calar a boca com uma administração transparente e de sucesso. Com dinheiro em caixa, pelo menos para pagar as despesas correntes, e uma dívida equacionada, com um orçamento viável. Assim, talvez os sócios e a torcida esquecessem o desprezo que ele demonstrou e demonstra pela multidão que justifica a existência do Vasco.

A realidade é que achar que o golpe e sua consequência não respingaria no time em campo é uma ilusão. Mais cedo ou mais tarde a falta de apoio dos órgãos internos, a falta de uma boa administração e, principalmente a falta de dinheiro, chegaria às quatro linhas.

Hoje temos um time tecnicamente sofrível, com desempenho ruim, que não recebe os salários combinados, que demonstra claramente sua contrariedade e que deixa a torcida com a pulga atrás da orelha. Até que ponto a insatisfação da equipe se refletirá nos resultados das partidas?

Entramos num caminho perigoso. Quando a torcida achar que não vale mais à pena apoiar o time e deixar de ir aos jogos (contra o ABC ocupamos metade do Maracanã), estará aberto o caminho para uma ruptura na estrutura e a deposição do presidente será pedida (mais uma vez) e caso não haja resistência da torcida, assumirão pessoas na linha sucessória do Vasco, vinculados a partidos que apoiam a antiga prática do toma lá dá cá,  recentemente tão nefasta para a nossa república.

A torcida precisa ficar atenta contra as tentativas de mudanças apressadas do Estatuto e contra a deposição do atual presidente antes das eleições do final do ano.

Eu, como a maioria dos torcedores não concordo e não apoio o nosso presidente mas, também não acredito nas boas intenções da maioria dos dirigentes e integrantes dos conselhos do clube e acredito que uma mudança do Estatuto deverá acontecer quando um novo e oxigenado conselho for eleito. Assim como uma deposição do presidente, tão perto do final do mandato, só abrirá uma brecha para que pessoas nas quais não depositamos confiança se apossem da instituição o que trará incerteza quanto ao futuro do clube.

2020 será um ano tenso no Vasco mas a sobrevivência e a possibilidade de um futuro melhor, dependerá de nossa vigilância.

O Vasco é de sua torcida e quando uma torcida não é respeitada, não há razão para a existência do clube. Talvez seja essa a intenção de algumas pessoas, saudosas do tempo em que o Vasco tinha dono. Você lembra?

Saudações Vascaínas!

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