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Antes de iniciar este artigo, quero deixar bem claro que minhas opiniões são pessoais, apartidárias e independentes e são fruto de pensamento cuidadosamente proferido, sem intenção de ofender quem quer que seja. Se, por ventura um nome é citado, é com a finalidade de destacar o fato, nunca ofender a pessoa. A única razão pela qual redijo estes artigos é tentar ampliar a chama da curiosidade sobre o funcionamento da instituição escolhida por milhões de pessoas para dedicar seu afeto.

Dito isto, vamos ao que importa.

Acompanho vários programas esportivos pela televisão e rádio, folheio jornais, leio muitos sites especializados em Vasco e esportes, assisto nas redes sociais as opiniões proferidas por vários grupos (políticos e/ou apartidários). Tudo isso, somado ao conhecimento adquirido durante mais de 50 anos como torcedor do Vasco da Gama e sócio da instituição, me dá uma considerável noção do que acontece no clube. Se mais não sei é porque não me deixam saber. Desta forma, deixo para as pessoas com opinião mais abalizada comentar a atuação do time dentro das quatro linhas (importantíssimo para quem torce por um clube), preferindo dar meus palpites sobre a organização da instituição, fundamentadas, sempre, nos fatos consagrados.

A base dos meus argumentos serão, sempre, os escritos oficiais que regem o funcionamento da instituição. No caso do Vasco, o principal é seu Estatuto. Nos artigos anteriores explanamos sobre algumas facetas do nosso Estatuto: no artigo “EM COMPETIÇÃO SEMPRE TORCER PARA VENCER”, falamos sobre a Assembleia Geral e Eleição; na primeira publicação (CONCEITOS SÃO RELATIVOS MAS OBJETIVOS SÃO CLAROS) falamos sobre a finalidade do clube (Art. 1 e 2), na quarta participação (DEMOCRACIA X MONOCRACIA), dei minha opinião sobre as penalidades (Art. 34 a 43), no Blog anterior, o quinto (MARES NUNCA DANTES NAVEGADOS: SERENOS OU REVOLTOS?) falamos sobre o sócio na visão do Estatuto.

Meu objetivo, novamente se volta para a relação entre Estatuto e associado, visando discutir o documento que, dentre outras coisas, autoriza os dirigentes a agir dessa ou daquela forma mas que, para nosso dissabor, é omisso em alguns pontos, autoritário em outros e desatualizado em quase sua totalidade. E mais uma vez quem perde é o sócio independente, que não possui voz e o simples torcedor, que tem seu interesse em ingressar para o grupo de sócios, bloqueado por diversos artifícios, inclusive a falta de planos específicos.

O desejo de participar da vida social do clube deveria ser facilitado e oferecido como uma benesse pela instituição. No Vasco, apesar do que alardeiam, não é assim. Muitas vezes os processos de admissão são engavetados, retardados e, por vezes, suspensos sob alegação de que um novo plano vem por aí... Este ano mesmo, sob o pretexto de que a empresa que administra o atual plano de sócios não satisfaz as expectativas da direção, os pretendentes estão aguardando o “novo plano de sócios”. Se cada diretoria que assumir for oposição à anterior, teremos a cada três anos uma nova equipe preparando uma proposta de plano de sócios, que consumirá o primeiro ano estudando a forma de oferecer o novo produto ao novo público. Tudo isso porque na nossa cultura, quem assume o comando não pode dar continuidade às ações iniciadas pela administração anterior. Primeiro têm que destruir o que foi feito, para depois oferecer a “novidade”.

Vamos em frente.

O Estatuto define os tipo de sócios admitidos, suas obrigações e regalias. Nem todos são obrigados a pagar taxa de inscrição, as mensalidades variam, alguns são remidos, outros tem direito a votar e/ou ser votados, etc.. Então, qual a dificuldade de manter um plano permanente de atração de sócios? Isso é o sonho de qualquer agremiação: um canal de recrutamento permanente que admite pessoas (sócios) que custeiam as despesas de manutenção do clube. Teoricamente, uma associação deste tipo deve ser mantida com a contribuição dos sócios. Se o sonho é maior, que busque outras fontes de receita, mas a contribuição dos associados é a base deste tipo de instituição. Como vocês acham que o Vasco foi fundado? Como foi construído o estádio de São Januário? Meu avô associou-se durante uma venda de títulos de sócio proprietário para ajudar a construção do estádio.

Isso caiu em desuso porque as pessoas que se dispõem a administrar essas instituições não possuem credibilidade e, portanto, não conquistam a confiança das pessoas predispostas a contribuir financeiramente com o sustento da agremiação. Poucos cartolas têm boa avaliação na sociedade. Desta forma, a atração de novos sócios encontra muita resistência entre os torcedores.

Se o problema fosse só esse, seria fácil a solução: dirigentes idôneos e competentes, plano de sócio permanente, programa de atração de sócios sério (ir atrás do sócio ao invés de dificultar), direitos equivalentes às obrigações, serviços diferenciados, patrimônio equilibrado e bem gerido, administração financeira transparente, investimentos adequados, plano de obtenção de patrocínios profissional, etc.. O problema é que nem sempre este tipo de organização é desejável. Veremos a seguir porque.

O Estatuto do Vasco é cartorial, oriundo da tradição portuguesa, aprimorada pelos brasileiros, que adoram ditar exigências, obrigações e uns poucos direitos. É comum no Brasil (filhote de Portugal d’antão) redigir contratos extensos, complexos, complicados, de difícil entendimento e duplo sentido. Assim, o Estatuto do Vasco é cartorial, ditatorial, monocrático e atrasado, o que favorece qualquer tipo de decisão, desde que favorável ao Rei.

Porém, o que mais me assombra é o estilo monocrático do documento, do tipo “ao Rei tudo, aos opositores a forca!”. Por um lado não reprimo o fato de definir punições contra àqueles sócios que agridem, ofendem, acusam, sem fundamento. Mas só contra eles? E se o Rei ofender, acusar, atacar sem provas? Bravatas do lado do Rei são permitidas?

São, pois o poder (Estatuto) está do seu lado. Pasmem, inclusive quando o Estatuto permite aos “culpados” defesa (após a punição, diga-se de passagem), cabe ao Rei e seus vassalos julgar a súplica. É quase como morrer duas vezes. Nunca vi ninguém voltar da cripta para a vida. Minto, acabo de ver um voltar: Walter Lima conseguiu reverter sua punição de expulsão após recorrer ao Conselho de Justiça (infelizmente foi o único, por votação apertada – os demais punidos terão que apelar para a justiça comum, se desejarem).

Por este motivo, dentre muitos outros, enquanto o Estatuto do Vasco não for reformado, nenhum sócio se sentirá seguro em fazer oposição ao presidente, mesmo que isso faça parte do processo democrático. Não do Vasco!

Como sempre afirmo que minhas opiniões se baseiam no Estatuto do clube, reproduzo a seguir um artigo especial para aqueles que desejam ingressar no rol de associados do Vasco: “Art. 14º - A proposta para sócio, acompanhada da taxa de admissão e da importância destinada a primeira mensalidade, emissão da carteira social e aquisição de um exemplar do Estatuto, será assinada pelo proposto e pelo proponente que deve ser sócio no gozo dos seus direitos não incluído nas referências XIII e XVI do Artigo 11º deste Estatuto e depois do parecer da Comissão de Sindicância, encaminhada ao Presidente do Clube, que resolverá em definitivo sobre o pedido de admissão. O proponente é responsável pelas indicações contidas na proposta.”

“§ 1º - As importâncias de que trata o presente artigo ficarão em depósito e serão devolvidas, desde que não seja aceita a proposta. A Diretoria não é obrigada a dar os motivos da recusa.”

Quem se habilita

Falaremos mais sobre o Estatuto no próximo blog, sobre a importância de ser sócio e sobre transparência.

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